A Transição é o movimento consciente e motivado de passagem entre a situação actual e o futuro ideal que ambicionamos. Estamos em Transição. E a missão da Transição, como rede ou iniciativa é agir como catalizadora, impulsionadora ou como apenas um convite… para criarmos comunidades locais mais resilientes e com uma cultura humana saudável. A Transição precisa de ser feita a muitos níveis. E em cada local as necessidades e as soluções são diferentes. Por isso, diferentes pessoas e diferentes Iniciativas de Transição (IT) complementam-se em acções e resultados diversificados e abrangentes, todos no mesmo sentido. Para embarcarmos a diversidade no mesmo sentido, sonhamos e visionamos o futuro de cada comunidade local. E partilhamos as aprendizagens de todos aspectos do trabalho comunitário numa rede que aprende, que partilha e que cresce. Para fazermos em todo o lado, a Grande Transição para um planeta, uma humanidade e uma biosfera em
equilíbrio.
Para melhor entendermos, resumimos a Transição como tudo isto:
Transição como… um processo interior
Será que necessitamos de uma mudança no mundo exterior (novas tecnologias, infraestruturas, etc.) ou interior? Estarão as raízes dos nossos problemas nos sistemas físicos da vida ou nas escolhas que fazemos e no modo como vemos e assumimos o mundo?
Na Transição partimos de um ponto de vista holístico ou sistema integral, pelo que estas duas dimensões – exterior e interior – não podem ser vistas em separado. Simplesmente construimos e organizamos o nosso mundo físico como resposta às nossas crenças e valores e por sua vez, estas nossas crenças e valores são formadas pelo mundo que vivemos à nossa volta.
No movimento ambiental a ideia de que o trabalho que desenvolvemos poderá ter um impacto ou afectar o nosso mundo interior é muitas vezes vista como algo secundário, que não temos tempo para dar atenção ou que nos tirará o foco do propósito real que é “salvar realmente a Terra”. É comum encontrar por exemplo cientistas e investigadores das alterações climáticas e áreas semelhantes que são especialistas sobre o assunto mas que não dão importância às mudanças necessárias (muitas vezes interiores) do dia-a-dia. Existe uma tendencia profissionalizante de fragmentar os diferentes aspectos da vida e que esta não pode ser vivida de forma integralmente saudável. Para a maioria das pessoas enfrentar a realidade das consequências do pico do petróleo e das alterações climáticas ou experimentar em primeira mão os impactes da recessão económica são questões que nos afectam directamente mas apenas exteriormente.
A Transição não trata apenas de mudanças materiais, como a instalação de painéis solares a acções de reflorestação. E também não significa que quem esteja realmente em processos de Transição, individual ou colectivamente, não viva tempos mais angustiantes, stressantes e intensos… pois todas as emoções humanas podem emergir. Ser uma das pessoas que acredita e inspira para um caminho diferente, a tentar mostrar que a comunidade pode ser uma resposta positiva e mesmo fantástica, também traz um grande peso de responsabilidade e trabalho em cima de poucos ombros, especialmente no início.
A Transição dá-nos as ferramentas e o suporte para sermos efectivos. Muitas IT criam o grupo de “transição interior” para suportar processos mais invisíveis e emotivos. Pode ser um tipo de apoio tipo coaching individual ou colectivo, processos de facilitação de grupo, gestão de conflitos ou apenas criar um espaço para o bem-estar e ultrapassar momentos menos bons. Apesar de existirem grupos dedicados especificamente ao trabalho interior, o processo de desenvolvimento pessoal e de trabalho da dimensão interior dos indivíduos e grupos da transição é considerado essencial para o sucesso de todos os grupos.
Transição como… liderada por exemplos práticos e concretos
As IT são para fazer as mudanças acontecerem, para serem os agentes pioneiros para a relocalização nas suas comunidades acontecer, para atingir uma maior resiliência e claro felicidade e bem-estar. Existe sempre uma grande força e energia no iniciar este tipo de desafios e em fazer projectos práticos e concretos uma realidade. E por isso será sempre algo que altera a atmosfera dos ambientes da comunidade, algo que quer mesmo mostrar que é possível uma mudança, que convida à sensibilização e à cativação de mais pessoas e que as ajuda a ter um sentido mais tangível do que um mundo sustentável pode ser. Se os problemas do mundo são globais e as soluções são locais então a solução é fazer a mudança local em todos os locais. Por isso o trabalho prático e concreto. E por isso a rede a abrangência mundial deste trabalho de pequena e ao mesmo tempo gigante escala.
Transição como… um enraizamento a um local e circunstância
Um dos aspectos mais belos da Transição é que única de local para local. Cada IT tem uma identidade própria. Como surge sempre num contexto sócio-cultural e económico do local onde acontece a Transição no Brasil será diferente da que acontece na Nova Zelândia e, numa escala mais pequena, a Transição em Braga acontece de modos distintos de S.Brás de Alportel. E ainda dentro de Lisboa ou Coimbra podemos ter diferentes núcleos ou bairros em Transição.
Transição como… uma ferramenta para transformar problemas em soluções
Existe uma história simples e bela nos textos antigos budistas de Shantideva, “o guia para o caminho da vida de bodhisattva” escrito 700 a.c. Esta história é uma analogia que conta como bodhisattva desenvolveu a compaixão e é acerca de um bando de pombos míticos que vivia num bosque de árvores que produziam bagas venenosas, tão tóxicas que tiravam a vida a quem arriscasse comê-las. No entanto, estes pombos podiam alimentar-se destas bagas e através delas produziam as penas mais belas e coloridas alguma vez vistas. Para Shantideva, este conto mostra como bodhisattva utiliza uma motivação positiva que surge do sofrimento de uma dada situação negativa. Mudando o ponto de vista ou o outro lado das coisas e utilizar essa motivação de forma positiva. Voltando à Transição, existem muitos assuntos “venenosos”, intensos ou potencialmente catastróficos mas podemos vê-los como possibilidades e oportunidades para mudanças positivas. Esta capacidade de “transmutar” os aspectos mais difíceis e problemáticos é um dos aspectos-chave da Transição.
Transição como… uma mudança de paradigma cultural
Quando o movimento de Transição começou em Totnes em 2005/2006, a grande motivação era uma resposta ambiental e um processo muito focado em questões de sustentabilidade. Após meia década de desenvolvimento e várias iniciativas e projectos a nível internacional é hoje em dia visto como um movimento baseado em processos e mudanças culturais. É como que perguntar qual é a cultura da tua comunidade para a tornar mais resiliente perante os desafios de uma mudança a emergir? Alguns estudos que interligam aspectos sociais e ambientais mostram que existem mais preocupações em valores intrínsecos que extrínsecos
Transição como… um processo da economia
A Transição está ligada a novas formas de pensar e criar soluções para a economia, desde formas mais colaborativas e empreendorismo social, este é realmente um dos grandes desafios para a mudança para uma sociedade mais resiliente e economicamente sustentável sem por em causa os valores ecológicos e sociais das nossas comunidades.
Transicão como… uma história contada
As comunidades em Transição devem ser capazes de contar as suas próprias histórias, seja do passado, do presente ou futuro e que sejam positivas e inspirem novas pessoas e localidades para a mudança. Neste momento estamos rodeados de histórias menos positivas e que afectam a nossa capacidade de mudança individual e colectiva. Começa por contar as histórias da tua mudança e Transição pessoal ou da tua IT.