Porquê a Transição

Tudo está a mudar muito rapidamente à nossa volta. O que esperamos hoje do futuro é significativamente diferente daquilo que esperávamos há três ou quatro anos atrás. Quais poderão ser os desafios que temos pela frente?

 

1 – Alterações Climáticas

Se quisermos manter o aumento da média das temperaturas globais abaixo do limite de segurança de 2°C, por forma a podermos evitar uma mudança climática descontrolada, só poderemos queimar uma fracção dos combustíveis fósseis que sabemos existir no subsolo, que corresponderá aproximadamente a 20% das reservas globais e a 20% das emissões de carbono ainda admissíveis, até que esse limite seja atingido.

Isto significa uma redução de emissões de CO2 (equivalente) globais de cerca de 80% até 2030. O mais importante é que as emissões de CO2 globais têm de chegar a um pico em 2015 e depois começar a descer pois elas continuam a crescer de dia para a dia. Só assim poderemos manter o nível “seguro” de aumento global de 2ºC. A partir daí os impactes ambientais, sociais e económicos serão enormes.

Temos pouco tempo. E para tal temos de conseguir fazer a Transição para usar menos energia em absoluto…

 

2 – Viciados em petróleo

Com o advento da Revolução Industrial, construímos um modelo económico e social totalmente dependente do acesso aos combustíveis fósseis, que até há bem pouco tempo eram abundantes e baratos. Primeiro o carvão e depois o petróleo e seus derivados foram gradualmente substituindo a força humana necessária à realização de muitas das tarefas necessárias ao dia-a-dia das nossas sociedades e substituindo também muitos dos materiais de origem natural que eram empregues nos mais diversos fins e satisfação de necessidades. Hoje dependemos de combustíveis fósseis em tantos sectores de actividade quantos os que nos possamos lembrar.

O que comemos foi fertilizado, tratado, refrigerado, embalado e transportado com recurso ao petróleo. Transportamos as nossas compras em sacos plásticos produzidos a partir do petróleo, para casas construídas com materiais e energia daí provenientes. Vestimos, calçamos e utilizamos bens fabricados, com o petróleo como matéria prima. Tudo o que fazemos ou consumimos, mesmo nos momentos de lazer, desde o ouvir música ao ler, estão permanentemente a gastar petróleo. Entretanto, perdemos o conhecimento ancestral de como satisfazer as nossas necessidades mais básicas sem ter de comprar um produto pronto.

À medida que a Era da energia barata (1850-2008) passa o ponto conhecido como o Pico do Petróleo e é substituída pela Era da energia a custo de preços insuportáveis (2008-?) passamos a estar num estado de risco crescente, económica e socialmente.

Não podemos simplesmente abrir a torneira do petróleo e continuar à espera de mais energia e produtos baratos e de fácil acesso para abastecer as nossas casas, empresas, lazer, transportes, fábricas e agricultura.

 

3 – Economia distorcida

A maioria dos produtos hoje comercializados viaja milhares de quilómetros antes de chegar ao consumidor. Para obedecer a regras de uma economia de mercado extremamente competitiva, insensível a considerações éticas laborais, sociais ou ambientais, o que consumimos é produzido em países distantes ou às custas das condições desumanas dos trabalhadores e a preços injustos pagos aos produtores, para que possamos ter um preço mais baixo e grandes empresas possam ter enormes lucros. Esta Economia distorcida, pouco eficiente energeticamente, socialmente injusta e destruidora dos ecossistemas leva os consumidores a não apoiar a sua economia local e a não assumir a responsabilidade positiva ou negativa do impacto do seu consumo no mundo à sua volta.

Assim, podemos dizer que apenas uma ínfima parte do comércio é feita ao nível local. Apesar disso, os pequenos comerciantes e empresários são aqueles que criam mais emprego, e que melhor contribuem para o bem-estar e para melhores condições de saúde e de justiça social. São eles também que mantêm o dinheiro que gastamos a circular na economia local, contribuindo para o seu desenvolvimento.

Assim sendo, em qual dos modelos devemos apostar?

 

4 – O mito do crescimento infinito

O planeta é finito, assim como todos os seus sistemas naturais, por isso não pode sustentar um modelo económico baseado num crescimento infinito sem criar desequilíbrios seriamente comprometedores. O crescimento económico sempre esteve associado a um maior consumo e destruição de recursos naturais.

Em vez disso, necessitamos de crescimento nas comunidades, no bem-estar, na felicidade, na justiça social e na resiliência (capacidade de resistir a factores externos e inesperados).

Seria mais sensato sermos cautelosos perante qualquer abordagem de crescimento económico infinito que põe em perigo os sistemas naturais, ou um sistema económico que só funciona para uns poucos à custa de muitos, uma vez que é focado exclusivamente no crescimento monetário dentro de um sistema financeiro caduco.

Em balanço,

Perante as previsões sombrias para o nosso futuro, sentimo-nos muitas vezes incapazes de enfrentar desafios desta dimensão, podendo até parecer que não nos importamos, e caindo nalguns casos na apatia.

Na verdade a maioria de nós preocupa-se profundamente. Não apenas com as nossas famílias, mas com as nossas comunidades, os lugares em que vivemos, e sobretudo com o futuro que os nossos filhos vão herdar.

Apenas precisamos de sentir que podemos ser parte da solução, e que temos o apoio dos outros. Precisamos ver a possibilidade de que as nossas acções podem realmente fazer a diferença.

 

E quanto mais de nós fizerem isso, maior será a mudança!

A Rede de Transição está presente para te ajudar, a ti e à tua comunidade, a construir respostas locais, resilientes e saudáveis, para esses desafios.

Nós não reivindicamos ter todas as respostas, não damos nenhuma garantia pois esta é uma experiência em curso, e estamos todos a aprender à medida que avançamos, sendo que muito do que já aprendemos, podemos agora partilhar contigo.

Envolve-te!
Podes participar no movimento de Transição envolvendo-te numa iniciativa na tua comunidade, criando uma iniciativa na tua comunidade, participando numa actividade de uma iniciativa transição, participando num curso de transição, efectuando um donativo ou contribuindo para realizar os objectivos da Plataforma.